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Um pouco mais sobre...

Contato Improvisação,
ou improvisação de contato, contact improvisation, contato improvisación,...

  Contato Improvisação é uma forma de dança onde as pessoas compartilham o peso através do toque corporal e improvisam movimentos, construindo a própria dança no instante em que é dançada.

 

  Surgida no início dos anos 1970 nos Estados Unidos, esta forma de dançar incomum para a época propunha a investigação das leis físicas da natureza (Newton) sobre os corpos. Steve Paxton é considerado seu criador, e realizava experimentações artísticas e performances com esta proposta junto com outros dançarinos. A consciência e a experimentação de gravidade, aceleração, inércia e fricção juntaram-se à idéia de se mover juntos pelo espaço em contato físico, “deixando” movimentos acontecerem de maneira improvisada – daí surgindo o termo a partir da descrição do que estavam fazendo: Contact Improvisation.

 

  Ao longo dos anos a forma foi sendo aperfeiçoada, sendo uma de suas características principais a “escuta” corporal que ocorre na dança, a partir de um ponto (ou vários pontos) de contato com o outro. Atualmente é praticado em várias regiões do mundo, com abordagens diferenciadas, inclusive em propostas de cunhos mais diversos, como terapêuticas, artísticas, ritualísticas, etc.

 

Jam[1]

 

  Uma Jam de Contato Improvisação é o encontro para dançar e praticar esta forma de dança. Muitas vezes pode ter uma condução inicial por um dançarino mais experiente ou não. As pessoas podem simplesmente chegar, se aquecer como querem, e dançar. E podem chegar a qualquer tempo da Jam, que pode acontecer com ou sem música.  

 

 

[1]  O termo Jam tem origem nos encontros de músicos de jazz norte-americanos na década de 1960, quando improvisavam suas estruturas musicais. Foi um fenômeno que influenciou vários campos das artes na vanguarda artística norte-americana neste período, e que os praticantes de Contato Improvisação o tomam emprestado para designar seus encontros informais. Significa jazz after midnight. (BANES, 1999; SILVA, 2009).

 

 

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Dança e Aids

  Há muitas coisas sobre Aids que ainda não sabemos, que a ciência ainda não desvelou. A Aids é uma epidemia complexa e heterogênea, tanto no aspecto de seu comportamento em diferentes países, como em relação às diferentes políticas para o acesso ao diagnóstico e ao tratamento da doença. Conheça alguns dados sobre Aids no mundo. http://www.unaids.org.br/sobre_aids/sobre_aids.asp

 

  Pessoas com e sem HIV convivem, neste momento da história, com a presença do vírus na sociedade, e mostram-se sob suas corporalidades singulares, pertinentes aos seus aspectos culturais, biológicos, psíquicos: são também corpos que dançam.

 

  A dança, enquanto campo artístico, transformou-se ao longo do tempo. A partir dos anos 1960, emergiram novos pensamentos sobre os modos de fazer dança, num contexto de inovações que caracterizaram o pós-modernismo na dança, adubando territórios para a diversidade de parâmetros, que podem ser observados no século XXI nas danças contemporâneas.

 

  Dança contemporânea acaba por desmanchar hábitos criados por nossas expectativas, e muitos de seus elementos mais instigam do que distraem. Se a dança deixa de ser entendida apenas como a execução virtuosa por um corpo treinado de algo pensado, isto implica num outro entendimento de corpo, que não é apenas veículo, mas co-criador no momento que dança.

 

  Por um lado, muitas danças contemporâneas incitam tanto o corpo-criador como o público fruidor à experimentação de papéis cambiantes. Ou seja, provocam situações nas quais o público se vê compondo a cena, a coreografia, a obra, com suas atitudes, reações. Enquanto isso, o artista-propositor muitas vezes reorganiza sua criação, alimentando-se das trocas com o público-participante, em diálogo com contextos que dizem respeito a situações humanas particulares e universais.

 

  Por outro, a Aids - epidemia contemporânea, heterogênea, dinâmica – atravessa quase três décadas reconfigurando corpos e os testando sobre novas formas de se comportar no mundo contemporâneo. Ambas, Dança e Aids, parecem estar cada vez mais próximas do dia-adia: a primeira tem caráter predominante de desespetacularização e lança mão de técnicas mais investigativas que adestradoras. A segunda, conseqüência da infecção pelo vírus HIV, se caracteriza por transmissão predominantemente sexual, ou seja, envolve uma atividade ligada à produção da vida – e isto implica em pessoas de diferentes culturas, raças, cores, idades, em relações sexuais e de gênero. Além disso, o número de pessoas portadoras do vírus é cada vez maior, e o fato de encontrar pessoas vivendo nessa condição pode ser mais comum do que se imagina.

 

  Alguns fatos importantes

 

  - Aids e Dança foi o tema discutido no Festival Montpellier Danse em 2007, em homenagem ao seu criador pelos 15 anos de sua morte, na cidade de Montpellier, sul da França. Teve como questão central “O que a Aids fez com a Dança, O que a Dança fez com a Aids?”

 

  - O livro How to Make Dances in an Epidemic - Tracking Choreography in the Age of AIDS, escrito pelo critico de dança David Gere, é o resultado de sua pesquisa, que examinou a interação entre Aids e coreografia no universo gay masculino. O livro é reconhecido por historiadores e pesquisadores da área de arte e política, como Sally Banes e David Roman, como a primeira publicação a investigar o tema em profundidade.

 

  - A dançarina e coreógrafa Anna Halprin (1920 - ), nascida em São Francisco (EUA), trabalhou com pessoas com Aids no documentário Circle The Earth, Dancing With Life On The Line (1989). Em suas obras, utilizava-se de métodos improvisacionais e de uma base menos pré-determinada para o movimento, buscando, para isto, gerá-lo fora das técnicas de dança tradicionais; a improvisação era utilizada como forma de ampliar as possibilidades de movimento e como via de interação entre os dançarinos. Enfatizava a experimentação da “consciência cinética” do movimento. Halprin deslocou o foco da subjetividade na Dança, antes aplicada formalmente à investigação do coreógrafo, para uma subjetividade explorada por cada dançarino, durante o desenvolvimento da Dança em uma estrutura improvisacional. Assim, ela tornava menos visível o produto final, enfatizando mais o processo, e tratando a improvisação como uma maneira de incluir o público na performance. Halprin valorizou ainda o conceito de ritual e os aspectos terapêuticos do movimento na dança.

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Por que Contato Improvisação com pessoas soropositivas?

   

   Porque o Contato Improvisação é uma dança que tende a construir novos modos de perceber o próprio corpo e o corpo do outro com quem se dança, já que, dentre outras características, não há os papéis de gênero pré-estabelecidos, como nas danças sociais mais comuns. Porque é uma prática que envolve o exercício de escolhas de movimento e de negociação contínua com o outro, se configurando como uma dança que é diálogo físico e relação, na qual o uso da fisicalidade envolve lidar com as diferenças, os riscos, os prazeres, as descobertas, as incertezas. Como um exercício de autonomia vivido na dança, dançar Contato pode trazer novas informações para o corpo, com as quais ele vai se reorganizando, podendo transbordá-las para outros contextos de vulnerabilidade da vida, nos quais vivem pessoas com e sem HIV/Aids.

 

   Dançar Contato Improvisação pode trazer vários benefícios para quem pratica, dentre eles: um aprimoramento do estado de atenção e presença; uma redescoberta do próprio corpo e de possibilidades novas de movimentos; estímulo à criatividade e respeito mútuo; consciência corporal e dos seus limites psicofísicos; por conseqüência, trabalha elementos como auto-estima, autonomia, co-responsabilização e confiança, além da possibilidade de melhora da capacidade cardiovascular e da sensação de bem-estar. Como não apresenta passos marcados, qualquer pessoa pode criar a própria dança, junto com o outro, o que favorece o contexto de inclusão e sensação de pertencimento ao grupo.

 

   Pessoas vivendo com HIV/Aids de um modo geral apresentam relatos de situações de exclusão e preconceito social, medo de revelar sua condição de soropositividade por medo de rejeição. Muitas vezes referem opção pelo isolamento e mudanças comportamentais importantes em relação à sexualidade, à aproximação corporal, ao toque físico. Juntar pessoas soropositivas para dançar Contato Improvisação pode ser um caminho no corpo de aprontar novas respostas para estas questões, através do exercício prazeroso de dançar. 

 

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